
A arruda é uma das espécies do género Ruta, e o nome botânico é Ruta chalepensis L. É também designada pelo nome sinónimo de Ruta graveolens. Há outra espécie do mesmo género, a Ruta montuna L. Existe ainda outra espécie, o arrudão, denominada Arum musciferum. Recebeu este nome devido ao cheiro fétido, semelhante a carne putrefacta. Esse odor atraia as moscas e os mosquitos, que ao aproximarem-se ficavam atordoados, acabando por perecer, tal é efeito tóxico.
Comprovei que a arruda tem a capacidade de libertar aromas benfazejos ou nocivos, conforme as circunstâncias. Esta característica só se manifesta na planta Ruta montana no estado espontâneo ou subespontâneo. Os Antigos chamaram a esta planta erva sagrada, mas tornou-se mais conhecia por erva-das-bruxas.
Conta-se que Leonardo Da Vinci e Miguel Angelo foram grandes apreciadores da arruda, convictos de que o seu inebriante aroma lhes fazia despertar a visão interior, aumentando o sentido criativo.
Sabe-se que na Idade Média se utilizavam ramos frescos de arruda submergidos em água benta para espargir o seu aroma sobre as multidões nas cerimónias religiosas e noutras ocasiões solenes, com a finalidade de purificar o ambiente. Durante a Peste Negra, este hábito popularizou-se devido à sua acção preventiva e curativa contra tão terrível mal.
Segundo registos históricos, a vila de Arruda dos Vinhos foi poupada à peste devido à abundância desta planta, que crescia espontaneamente nos campos circunvizinhos. Era também cultivada nos jardins e alegretes das casas da povoação. Diz-se que a permanência posterior do rei D. Manuel I e da sua corte no concelho está relacionada com o facto de não se terem registado indícios da epidemia da peste na região. Parece que o nome original da vila de Arruda se deve à própria planta. O seu primeiro foral data de 1172. A designação de Arruda dos Vinhos só aparece em registos datados de 1828 e está relacionada com a plantação da vinha, que foi certamente uma das causas da diminuição da planta, que pouco a pouco foi desaparecendo, como tantas outras de origem espontânea.
A arruda floresce de Abril a Agosto. As suas belíssimas flores,de um tom amarelo-vivo, agrupam-se em cachos, cuja flor central é composta por 5 pétalas enquanto as restantes têm apenas 4. A flor principal mantém melhor o vigor e dá sementes mais miúdas e com um tom preto mais acentuado.
As sementes amadurecidas apresentam uma cor preta e mantêm-se nos ramos de um ano para o outro, pois são muito resistentes às intempéries. Esta planta reproduz-se também por esporos. Um pé de arruda forma em 2 ou 3 anos uma moita graciosa, exalando dia e noite diferentes aromas, purificando e preservando o ambiente
Colheita: Para colher folhas ou ramos de arruda deve estabelecer-se um contacto assíduo com a planta, observando com especial atenção a intensidade do seu aroma. Se exalar um cheiro desagradável é melhor não lhe tocar, pois pode provocar erupções na pele. Recomendo o uso de luvas sempre que for necessário o manuseamento durante a colheita e a preparação. Mas se colhermos com o devido cuidado as folhas da base inferior dos ramos ou alguns ramos floridos sem afetar o caule principal antes do nascer do Sol, a planta oferece a sua delicada fragrância e não provoca nenhum dano.
Conservação: As folhas verdes mantêm a vitalidade e a cor mais ou menos 7 horas. As inflorescências conservam a cor e a vivacidade de 5 a 7 dias. As sementes secas duram muito tempo e reproduzem-se passados mais de 15 anos. A raiz com 5 anos de existência concentra muita energia e mantém o seu vigor mais ou menos uma semana. Depois começa a mirrar, Quando bem seca, conserva-se naturalmente durante muitos anos.
Um ramo de arruda numa jarra com água mantém-se viçoso durante mais de um mês, e na fase da lua cheia exala com mais intensidade o seu aroma. Devem juntar-se-lhe outras plantas aromáticas. A arruda, o tomilho e o rosmaninho branco formam um conjunto harmonioso.
Forma de utilização:
- Folhas verdes e inflorescências em emulsão.
- Raiz fresca infusão.
- Raiz seca em decocção.
- Sementes em maceração ou trituração exclusivamente para uso externo.
- Ramos frescos secos em fumigações ou defumações para purificar o ambiente. Utilizam-se também como adornos misturados com outras plantas.
As tisanas devem preparar-se sempre com outras espécies compatíveis, com agradáveis aroma e sabor e isentas de toxicidade. A emulsão da manhã pode ser preparada com arruda, alecrim e funcho, e para a noite substitui-se o alecrim por salva ou melissa. Pode aumentar-se a quantidade desta última para se obter uma ação mais sedativa. A raiz liga bem com a da alteia, a do funcho e a do gengibre. As sementes, depois de trituradas, misturam-se com a linhaça e utilizam-se só para tratamento externo. No caso de um tratamento continuado devem alterar-se as plantas complementares para evitar habituação.
Indicações: A emulsão da manhã proporciona uma melhor eficácia, destacando-se os seguintes efeitos: purificador, vitamínico, antimefítico, anti-infeccioso, adstringente, galactagogo, vulnerário, estimulante e emenagogo. A emulsão da noite proporciona principalmente os efeitos depurativo e sedativo. A decocção proporciona em especial os efeitos depurativo, anti-infeccioso e vulnerário. As tisanas de arruda tomam-se sempre no intervalo das refeições. Empregam-se também em gargarejos e compressas. Os gargarejos, com uma tisana bem aromatizadas purificam o paladar e fazem desaparecer o mau hálito, As compressas produzem um aumento de tonicidade, ajudam na cicatrização de feridas, aliviam dores nas costas e no peito. Absorvem o calor do corpo ajudando a baixar a febre e a diminuir a celulite.
As fumigações e defumações são mais eficazes se juntarmos à arruda alecrim e tomilho. Purificam o ambiente, afastam mosquitos, moscas e outros insectos prejudiciais à saúde. Um ramo de arruda fresca misturada com alecrim e rosmaninho-branco purifica o ambiente, liberta-o, por exemplo, do cheiro do tabaco e cria uma atmosfera inebriante que induz ao entusiasmo e a uma maior criatividade.As sementes, colocadas em gavetas ou nos armários, repelem as traças e eliminam os maus cheiros.
A arruda tratada com carinho oferece-nos muitos benefícios durante o ano.
Fonte:Guia Ecológico das Plantas Aromáticas e Medicinais de Zélia Sakai



